Via de regra, não me comovo com as coberturas da mídia burguesa quando das tragédias que se abatem cotidianamente sobre a humanidade.
Isso porque os jornais escritos e os televisionados, distorcem os fatos, buscando explorá-los, não com o fito de trazer solução aos problemas, mas sim para, extraindo o máximo da tragédia humana, conseguirem mais e mais audiência, isto é, maiores lucros.
Desta vez, confesso, foi diferente.
No dia de ontem, ouvi algum comentário, vi rapidamente, “lendo por cima”, uma notícia e outra na internet. Mas por questões de ordem profissional e pessoal, ontem não deu tempo de ver o jornal televisivo noturno.
Entretanto, ao ligar a TV hoje, nos primeiros minutos do meu despertar, tive o meu quarto invadido pela exploração midiática da Rede Globo, via o jornal Bom Dia Brasil, desta lamentável tragédia que se acometeu sobre a classe trabalhadora da cidade do Rio de Janeiro.
Não consegui ficar indiferente - talvez porque tenho buscado uma nova paternidade, talvez porque tenho um filho e uma sobrinha de 13 anos, a idade média das vítmas, ou, ainda, talvez porque ferido em meu amor incondicional à humanidade (sim, atos como o em comento faz balançar esse meu amor) – cai em lágrimas, as mesmas que me consomem enquanto escrevo este post.
Peço desculpas aos meus leitores, pois sei que o objetivo do Blog Defesa do Trabalhador não é retratar a realidade sob o enfoque que até agora estou escrevendo, parecendo mais um correspondente desta mídia vendida que condeno de modo veemente.
Assim, para sair do lugar comum, é buscar entender o porque dessa tragédia, não com os olhos viciados daqueles que querem o lucro, mas numa perspectiva não alienada da realidade.
Assim, não tenho dúvida em afirmar, estamos diante de uma tragédia provocada pela crueldade do capitalismo.
O jovem assassino das crianças de Realengo - o que afirmo em face da carta por ele deixada - era uma pessoa mentalmente pertubada. Se em nosso país se investisse seriamente em saúde pública, certamente esse rapaz estaria sendo tratado e, por conseguinte, seria evitada tamanha perda de vidas inocentes.
A saúde pública é um caos, todos sabemos disso, a tragédia deste outono de 2011, um efeito colateral desta realidade.
Mas, não apenas o caos na saúde explica o que, pasmo, assistimos incrédulos.
A situação da Educação em nosso país, por exemplo, o descaso em que os Professores são tratados por diferentes governos, tem também responsabilidade sobre a tragédia.
A Educação Pública brasileira, precisa de mudanças radicais. Além do investimento na formação de professores e na requalificação dos atuais, se faz necessário repensar toda a estrutura educacional, desde o ponto de vista pedagógico (para tornar o apreender o saber algo agradável e atraente), passando pela questão das estruturas físicas das escolas e, ainda, em investimento em segurança.
Lado outro, é preciso emprego para a classe trabalhadora e salários dignos, para que as crianças sejam criadas em ambientes estruturados e com amor e não reflitam nas escolas a violência e a exclusão social do seu dia-a-dia.
Como diz o SEPE (Sindicato Estadual dos Profissionais em Educação do Rio de Janeiro), na nota para a qual o atalho ao fim deste texto o levará, “o número de casos de violência dentro e no entorno das escolas tem aumentado de ano para ano: agressões a professores, brigas de alunos, balas perdidas resultantes de operações policiais ou confronto de quadrilhas de traficantes; todas estas ocorrências tem provocado ferimentos e até mortes de alunos e o sindicato tem denunciado às autoridades, mas, até o momento, nossas denúncias tem caído no vazio e as ocorrências continuam acontecendo.”
Tudo isso, porque o sistema capitalista reserva, deliberadamente, um quadro de pobreza, de exclusão de direitos, de sucateamento dos serviços públicos, para a classe trabalhadora.
A tragédia que vitimou as crianças do Rio e, de certa forma, todo o Brasil, é conseqüência direta desta opção neoliberal dos nossos governantes, em privilegiar os grandes industriais, os grandes banqueiros (nacionais e internacionais) em detrimento da qualidade do serviços públicos.
Não sem motivos, os políticos não falam em atacar realmente o problema.
Indiguinemo-nos pois, observemos o luto e a tristeza que o caso impõe, mas pelos meninos e meninas do Rio - essas 12 crianças cruelmente assassinadas e outras tantas feridas - lutemos contra esse maldito sistema, lutemos por nossos direitos!
Meninos (as) do Rio, minha indignação, minha luta é minha homenagem às suas memórias.
Adriano Espíndola Cavalheiro
Advogado, blogueiro, militante social e político.
CLIQUEM AQUI E LEIA A NOTA DO SEPE CONVOCANDO PARALISAÇÃO CONTRA A FALTA DE SEGURANÇA
4 comentários:
Excelente postagem, sensível e radical- no sentido marxista, por ir à raiz da questão.
Triste ver demagogos como Cabral e Paes se solidarizando com as famílias das vítimas, quando historicamente o Estado burguês negligencia os interesses públicos.
Pois é, Adriano. Destacam a violência, o aparato repressivo, usam a abusam de clichês e se esquecem da educação, dos profissionais da educação, das inúmeras questões sociais e políticas que conduzem a fatos lamentáveis como esse. Também escrevi sobre o assunto, "no calor da hora", mas é preciso falar... (veja no "Impertinências". Abraços.
Obrigado Tejo, teu comentário, visto que és um marxista, me enche de orgulho!
Renato,
Devo republicar seu texto aqui, ou, ao menos, direcionar um atalho a ele.
Obrigado por acompanhar meu Blog.
Adriano
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