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Sejam bem vindos. O objetivo deste Blog é informar as pessoas sobre os mais variados assuntos, os quais não se vê com frequência nas mídias convencionais, em especial acerca dos direitos e luta da juventude e dos trabalhadores, inclusive, mas não só, desde o ponto de vista jurídico, já que sou advogado.

sábado, 25 de abril de 2009

IMPRENSA MARROM: Ataque a sem-terras no Pará revela o verdadeiro papel da grande imprensa

Diego Cruz da redação do
Jornal Opinião Socialista

Na época da invasão dos EUA no Afeganistão e posteriormente Iraque, causou polêmica a figura do chamado jornalista “embedded” ou “infiltrado”. Eram jornalistas de TV, principalmente da republicana CNN, que acompanhavam os soldados norte-americanos na linha de frente dos combates.
Devidamente treinados e aparamentados pelo próprio exército, os jornalistas registravam ataques e tiroteios, direto do front, contra o inimigo. Além de garantir boas imagens para os telejornais, tais jornalistas serviam na prática para promover a campanha pró-guerra do governo Bush.
A cobertura aprofundava a identificação entre telespectadores e soldados, além do ódio contra o “inimigo”.
Pois bem, no Brasil também temos nossos jornalistas “infiltrados”. O cenário, porém, não é mais o deserto do Oriente Médio, mas o interior do Pará.
Faroeste caboclo
No último dia 18 de abril, imagens de uma verdadeira guerra dominaram os noticiários.
Na entrada de uma fazenda, homens atiravam com revólveres e escopetas, de forma indiscriminada contra sem-terras.
Logo, o espectador é informado que “seguranças” e sem-terras entraram em conflito numa tentativa de invasão da fazenda Espírito Santo, controlado pelo grupo agropecuário Santa Bárbara, em Eldorado dos Carajás, que tem como um dos proprietários o banqueiro Daniel Dantas.
Os “invasores” teriam usado os jornalistas como escudo humano para se protegerem dos disparos dos “seguranças”, além de os terem mantido “reféns” na fazenda, bloqueando a entrada para que não pudessem sair.
Para o espectador, não havia dúvidas. De um lado, uma turba descontrolada de sem-terras, armados. De outro, seguranças tentando proteger a fazenda. Os jornalistas, as vítimas em meio ao fogo cruzado.
Do tiroteio, nove feridos, sendo oito sem-terras e um segurança, que “pode perder um olho”.
Após um dia mantidos reféns na fazenda, finalmente os jornalistas são “libertados”. Logo, concedem entrevistas relatando os momentos de tensão que viveram sob a guarda do MST.
Como se diz: “a verdade dos fatos?”
No Jornal Nacional do dia 20 de abril, segunda-feira, a reportagem mostra os sem-terras entrando na fazenda.
“Logo depois, começa o tiroteio”, diz o repórter, quando o cinegrafista mostra, na verdade, o segurança descarregando sua escopeta sobre os sem-terras. “Foram dez minutos de intensa troca de tiros”, diz ainda a reportagem. Já as imagens registram os sem-terras saindo da fazenda, e os feridos estirados no chão.
De um lado, nove sem-terras baleados, um deles com quatro tiros, internado em estado grave com uma bala alojada próxima ao coração. De outro, um segurança ferido.
O que é descrito como uma “troca de tiros” foi, e as próprias imagens mostram, um ataque arrasador dos jagunços da fazenda sobre os sem-terras. Por pouco, Eldorado dos Carajás não presencia mais um massacre, como o de 1996, que resultou na morte de 19 pessoas.
Mas, e os jornalistas reféns, utilizados como escudos humanos?
Parte daí o aspecto mais interessante dessa história. O fato de a perspectiva da câmera ser a dos guardas da fazenda não é coincidência. As imagens são registradas atrás dos jagunços, mostrando que os jornalistas não estavam na frente dos sem-terras quando os tiros são disparados. Se estivessem mesmo sendo usados como escudos humanos, como alegam, seria difícil que escapassem quando outras nove pessoas do MST são atingidas.
Confirmou-se depois que quatro jornalistas haviam viajado de Marabá para Eldorado dos Carajás, em avião fretado pelo grupo Santa Bárbara. O avião pousou na pista existente dentro da própria fazenda.
Dois deles, o repórter Victor Haôr e o cinegrafista Felipe Almeida, eram funcionários da filial da rede Globo no Pará, a TV Liberal. Os jornalistas chegaram à fazenda antes do conflito.
Reportagem da Folha de S. Paulo publicada no dia 21 afirma que “na manhã de sábado, algumas horas antes do conflito, quatro jornalistas de Marabá viajaram à fazenda num voo fretado pela Santa Bárbara. No domingo, retornaram da mesma forma, usando uma pista dentro da propriedade”.
Ou seja, mesmo que fosse verdade a versão que os sem-terras bloqueavam a entrada da fazenda, isso não impediria os jornalistas saírem da propriedade, já que o fizeram de avião no dia seguinte. Exemplo de imparcialidade da mídia burguesa
A própria Policia Militar reconheceu que não houve nenhum refém.
Mesmo assim, a ANJ (Associação Nacional dos Jornais) divulgou uma nota que é exemplo irretocável do que os empresários de mídia entendem por “imparcialidade”.
Diz o comunicado que a “Associação Nacional de Jornais (ANJ) repudia com veemência a ação criminosa de integrantes do MST do Pará, no sábado, dia 18, que mantiveram quatro jornalistas como reféns e os usaram como escudos humanos no enfrentamento com seguranças da Fazenda Castanhais, em Xinguara”.
Vamos então aos fatos.
Os jornalistas foram plantados pelos fazendeiros no local que ocorreria o conflito. Viajaram à custa do grupo que controla a fazenda e, com o circo armado, registraram as imagens do ataque dos jagunços como se fosse realmente um conflito armado e não um ataque contra o MST.
Como se não bastasse, ainda se passam por vítimas.
A reportagem, desde seus preparativos à edição final, mostra uma intenção bem clara: criminalizar os sem-terras.
O fato de Dantas ser um dos proprietários da fazenda confere um simbolismo ainda maior ao episódio.
Da mesma forma que os jornalistas “infiltrados” estão a serviço do Pentágono na guerra de propaganda em favor do exército norte-americano, a grande mídia no Brasil atua, de forma cada vez mais descarada, em favor dos banqueiros e latifundiários.
Esse é o significado da pretensa “imparcialidade” da imprensa burguesa, mote muitas vezes engolido por parte da própria imprensa que se define “crítica”.
Desta forma, uma mídia que se coloque explicitamente sob o ponto de vista dos trabalhadores e dos movimentos sociais, é logo estigmatizada como “panfletária”.
O mito da imparcialidade funciona assim como escudo para proteger os interesses da elite.
Na luta de classes, porém, não há meio-termo.
Ou se está do lado dos jagunços e dos fazendeiros, ou se está do lado dos sem-terras.
(o editor deste Blog, advogado da classe trabalhadora, já escolheu seu lado, faço o mesmo divulgando essa msg e o Defesa do Trabalhador para todos os seus contatos - Nota de Adriano Espíndola)

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