"Compreender de onde vem a violência e por quais motivos ela se difunde em um corpo social não é o interesse do Poder Público"
por Márcio Renato Teixeira Benevides
As sociedades presenciam um aumento das práticas violentas. Esse fenômeno não se restringe à violência institucional, mas se desenrola nas relações sociais. Fortaleza é uma das metrópoles com a maior taxa de homicídios e não temos perspectivas para sanar essa situação de um modo menos repressivo, voltando-se para uma dimensão de segurança com respeito aos Direitos Humanos e às liberdades.
Nesse contexto, as Torcidas Organizadas tornaram-se o locus da violência. Como toda forma de poder, a violência não se concentra e nem se delimita. O poder não é “coisa” e não se substancializa em um grupo, compondo uma rede de sociabilidades violentas, com raízes complexas e híbridas.
Compreender de onde vem a violência e por quais motivos ela se difunde em um corpo social não é o interesse do Poder Público. As soluções rápidas e midiáticas, como a proibição, são preferidas pelos que deliberam. Além disso, dentro de um cenário de elitização do futebol, partindo do “Modelo Fifa” – que viola direitos fundamentais e desmantela a nossa autonomia –, proibir a presença das TO’s torna-se uma decisão política, não do controle da violência.
As TO’s são compostas, hegemonicamente, por jovens, pobres, negros e das periferias. Impedir que essas juventudes se agremiem faz parte do reordenamento socioespacial demandado pelo Capital. O Estado executa sem levar em conta o que significa associar-se quando se é espoliado.
Que outros tipos de sociabilidades o Estado oferece a essas juventudes? Quais as possibilidades que esses segmentos possuem para se divertir de modo gratuito e com qualidade? O Estado não tem dado soluções a essas pessoas. Quando proibiu o uso de bandeiras, faixas, percussões e outros adornos do espetáculo nas arquibancadas, o Poder Público eliminou apenas o lúdico.
Sobraram, com essa decisão, as práticas violentas, que não nasceram nas Organizadas, mas que são o ranço de suas sociabilidades. Os membros dessas organizações são oriundos de comunidades violentas, vítimas de uma história de extermínio de juventudes subalternas, de criminalização da pobreza e de esterilização social. Resolver esse contexto e romper estruturalmente com a desigualdade não parece ser a meta das autoridades. Proibir é livrar-se do problema e responder a quem paga o jogo.
Márcio Renato Teixeira Benevides, marcio_rhcp@yahoo.com.br, é
sociólogo
Fonte: Jornal O Povo On Line
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