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Sejam bem vindos. O objetivo deste Blog é informar as pessoas sobre os mais variados assuntos, os quais não se vê com frequência nas mídias convencionais, em especial acerca dos direitos e luta da juventude e dos trabalhadores, inclusive, mas não só, desde o ponto de vista jurídico, já que sou advogado.

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terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Adolfo Pérez Esquivelr- Honduras foi submetida à eleições ilegítimas

A comunidade internacional, os governos e povos latinoamericanos não podem dar seu aval às eleições imorais e ilegítimas realizadas no dia 29 de novembro, em Honduras.

O governo dos Estados Unidos é cúmplice e gestor do golpe de Estado nesse país; um golpe realizado para submeter ao povo e impor políticas de dominação e saqueio na região. O manifesto de apoio do governo de Obama ao chamado às eleições pela ditadura é tentar justificar o injustificável, ocultar e desconhecer a soberania de todo um povo e do presidente Manuel Zelaya que se encontra praticamente encarcerado na Embaixada do Brasil há dois meses, suportando a permanente agressão dos golpistas. Dana profundamente as democracias em todo o continente e a possibilidade de que os Estados Unidos possam construir relações de respeito com seus vizinhos, voltando a ratificar que outros países que não respondam aos interesses dos EUA possam sofrer situações semelhantes …

Leia o restante da entrevista no Correio do Brasil, clicando aqui

domingo, 29 de novembro de 2009

HONDURAS - Boletim da Resistência

 HONDURAS – AMÉRICA LATINA LIVRE

BOLETIM DE LUTA – III – 29/11/2009

(Resistência Hondurenha)

A FARSA

Com apoio político, material e militar dos Estados Unidos o governo golpista tenta hoje seu último lance para “legalizar” o golpe de estado que derrubou o presidente constitucional Manuel Zelaya. “Eleições” dirigidas, com cartas marcadas onde o poder, qualquer que seja o vencedor, será sempre dos golpistas. O povo hondurenho está sendo ameaçado, coagido a comparecer para dar números que possam justificar o golpe e permitir que a barbárie ganhe contornos de “democracia”.

Todas as tentativas de retomar a legalidade foram feitas pela Resistência, com amplo apoio popular e não há como reconhecer a legitimidade dessas eleições se restritas aos grupos que controlam as instituições e a economia do país com o apoio das forças armadas ditas hondurenhas. São forças auxiliares do governo dos EUA e subordinadas aos comandantes da base militar norte-americana em Tegucigalpa.

Nós, os resistentes, não pretendemos impor nenhum governo, nenhuma ordem política, econômica e social que não seja o reflexo da vontade dos hondurenhos. Livre, sem a violência da ditadura sob a qual vivemos. Continuaremos a lutar apoiados por povos e governos democráticos da América Latina, de todas as partes do mundo, agora numa etapa diferente, a refundação de Honduras a partir de uma nova carta magna que seja elaborada pela vontade popular expressão numa assembléia nacional constituinte e sem perder de vista que o presidente legítimo dos hondurenhos é Manuel Zelaya.

Para que a farsa se consuma contam com apoio da chamada grande mídia internacional, controlada toda ela pelo capital dos grandes grupos econômicos que sustentam e formam o império norte-americano. Não toleram que deles se discorde, ou que modelos diversos existam no mundo.

A BARBÁRIE ANIMALESCA DOS “PATRIOTAS” FARDADOS

São bárbaros, são cruéis, são cínicos, são covardes e são desumanos. Obama não é diferente de George Bush, só no estilo, no sorriso hipócrita e nos acordos não cumpridos.

Essa característica, que é um desrespeito ao povo hondurenho, por extensão a todos os povos da América Latina, às nações livres do mundo, se mostra na ação criminosa de militares destituídos de princípios, honra e compromissos com o que chamam de pátria, na verdade, a deles, é o soldo que chega de Washington. São répteis na essência da palavra.

Prisões, invasões de domicílios de líderes oposicionista, assassinatos, tortura, estupro, tudo isso é o cotidiano de Honduras desde o golpe em julho.

Hoje a população está sendo coagida a votar por todos os meios de pressão possíveis. Desde ameaças de prisão pura e simples com flagrantes montados, a advertências sob risco de perder empregos com o não comparecimento às urnas, muitas vezes pessoas são presas em casa e levadas a votar – funcionários públicos principalmente – além das fraudes costumeiras de muitos deles votarem várias vezes. Não importa para eles o resultado que já está decidido em cédulas previamente marcadas, mas a presença para justificar ao mundo tamanha ignomínia.

Em todas as ruas de todas as cidades hondurenhas militares armados até os dentes se posicionam, inclusive franco atiradores para que a “democracia” deles se exerça e a farsa se consuma.

A grande mídia ignora isso, pois foi orientada pelas redes CNN e FOX a dizer que tudo é “uma festa democrática”.

Um exército subalterno armado enfrentando um povo desarmado, a típica covardia dos boçais, dos torturadores, dos criminosos assalariados por potência e interesses estrangeiros.

Militares assassinaram Mario Hernández e seu filho Henrý Hernández, de 24 anos. Mario era casado com a candidata a alcaideria (prefeitura) de San Francisco, no departamento de Atlántica. Ambos foram torturados antes de serem executados. O fato aconteceu ontem, 28 de novembro. Não admitem contestações quaisquer que sejam.

Hoje pela manhã duzentos bandoleiros fardados dos golpistas, ditos militares, mas com atitudes animalescas de bestas feras, invadiram o Sindicato dos Trabalhadores de Bebidas e Similares – STIBYS – local de reunião da resistência todos os dias desde o golpe. Pela manhã o esquadrão de assassinos deixou o local, mas lá ficou um jipe com soldados evitando a presença de resistentes.

O jovem Gencis Mario Orlando Umanzor Gutiérrez foi detido na madrugada de 28 para 29 de novembro na operação terror dos militares hondurenhos e levado para local desconhecido. A divulgação dos nomes é importante para que organizações internacionais de direitos humanos possam cobrar medidas de proteção, antes que os prisioneiros sejam assassinados. A prisão foi na colônia Centroamericana de Comayauela. Depois de preso foi entregue à patrulha MO3-03, um dos códigos do terrorismo financiado e montado por Washington.

Os observadores internacionais considerados suspeitos estão confinados em locais onde não podem tomar conhecimento de toda essa barbárie e só aqueles autorizados pelo governo golpista depois de ordens de Washington podem circular por Honduras. A CIA e o MOSSAD trabalham livremente no processo de escravização e brutalização do povo hondurenho e da nação hondurenha. São os tais “conselheiros”.

LISTA JÁ CONHECIDA DE PESSOAS DETIDAS EM 28 DE NOVEMBRO

Marcus Gualan Cortes, detido às 01h50m /am pela Polícia Nacional (esquadrão da morte).

Gustavo Adolfo Cortes Gualan detido às 01h50m/am, pela Polícia Nacional (esquadrão da morte).

Victor Corrales Danly, detido em El Paraíso, às 23horas, pela Polícia Nacional (esquadrão da morte).

Gencis Mario Orlando Umanzor Gutiérrez, Centroamericana, Comayaguela, 02h30/am, militares (soldados supostamente hondurenhos mas controlados pelos EUA).

Humberto Castillo, Oficina Selcon, Tegucigalpa, 6h/am, policiais militares (esquadrão da morte).

As notícias sobre presos e desaparecidos são enviadas pelo CENTRO DE PREVENCION, TRATAMIENTO Y REABILITACION DE LAS VICTIMAS DE LA TORTURA Y SUS FAMILIARES e enviadas por mail a FIAN, organismo da resistência.

O PODER É DO POVO! ZELAYA É O PRESIDENTE

RESISTIMOS A BRUTALIDADE MILITAR DOS EUA!

LEIA TAMBÉM: - Contra a ilegitimidade da eleição, representante da Conlutas leva solidariedade ao povo hondurenho –clique aqui

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

HONDURAS: Acordo de Guaymuras - um pacto contra o povo hondurenho

Declaração da Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI)

Em 30 de outubro passado, foi assinado o chamado Acordo de Guaymuras (primeiro nome que os espanhóis deram a Honduras) entre os representantes do governo golpista de Roberto Micheletti e os do presidente deposto Manuel Zelaya, que determina o possível retorno de Zelaya ao poder.

Este último ponto era uma das principais reivindicações da luta antigolpista e, por isso, é possível que grande parte do povo hondurenho veja como um triunfo. A realidade mostra, ao contrário, que este acordo roubou do povo hondurenho a possibilidade de derrubar com sua luta o governo resultante do golpe militar

Leia o restante da declaração da LIt no site do PSTU, clicando aqui

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

AINDA HONDURAS

Retorno de Zelaya reacende protestos em Honduras
Em entrevista por telefone, hondurenho conta como está a situação do país


Por Jeferson Choma, da redação do Jornal Opinião Socialista



Nesta segunda-feira, dia 21, o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, tinha acabado de retornar secretamente ao país. Ele estava refugiado na embaixada brasileira na capital, Tegucigalpa, para onde milhares de manifestantes estavam se dirigindo pedindo o fim do governo golpista.

O retorno de Zelaya reacende as mobilizações contra o golpe. Milhares de pessoas de todos os cantos do país voltam às ruas para exigir o retorno do presidente deposto. Em resposta, o governo golpista de Roberto Micheletti anunciou que todos os aeroportos hondurenhos ficarão fechados. Também foi declarada a extensão do estado de sítio quando foi confirmada a presença de Zelaya na embaixada do Brasil. Os ativistas dos movimentos sociais, sindical e estudantil brasileiros devem permanecer de prontidão para cercar de solidariedade a luta do povo hondurenho.

Logo após o anúncio do retorno de Zelaya, o Opinião Socialista entrevistou Tomas Andino, integrante da Frente de Resistência Contra o Golpe, no momento em que estava na frente da embaixada com outros milhares de ativistas.


Como está a situação neste momento em Honduras?
Tomas Andino – Hoje, chegou secretamente a Tegucigalpa o presidente deposto, Manuel Zelaya, que está refugiado na embaixada do Brasil. Desde então, está chegando uma grande quantidade de pessoas daqui da capital, que está se reunindo em frente à embaixada. Há também milhares de pessoas de outros departamentos do país que estão vindo para cá em caravanas. Vamos fazer amanhã (dia 22) um ato com centenas de milhares de pessoas de todo o país.

Neste momento, o governo da ditadura impôs um estado de sítio para impedir que as pessoas cheguem a Tegucigalpa. Há muito entusiasmo do povo, que está aqui para proteger o presidente. Há uma situação um pouco diferente no exército. Não há muita presença de militares aqui, por enquanto. Suspeitamos que algo, algum tipo de movimento, pode estar ocorrendo internamente nas Forças Armadas.

Neste momento, quantas pessoas estão em frente à embaixada?
Tomas - Há por volta de 8 mil a 10 mil pessoas aqui. Muitos estão dispersos, em piquetes em diferentes ruas e avenidas da cidade. A energia elétrica foi cortada e a água também em toda essa região para tentar dispersar as pessoas. No entanto, com paciência e criatividade, elas estão improvisando uma iluminação. Há um grande entusiasmo. As pessoas não estão amedrontadas, ninguém tem medo, e todos estão dispostos a defender com tudo o que se pode a luta contra o golpe.

Existe algum temor com relação a uma onda de repressão?
Tomas - As pessoas não têm medo da repressão. O governo nos reprimiu duramente por 85 dias, mas o povo aprendeu a suportar e, hoje, existe uma enorme disposição de enfrentar qualquer repressão com seus próprios meios. Não há medo, mas sim disposição de lutar.

Qual é a sua expectativa em relação aos próximos dias de luta contra o golpe?
Tomas - O presidente Zelaya, assim como a OEA [Organização dos Estados Americanos], disseram que seu retorno ao país serve para abrir um diálogo com os golpistas. Mas o povo aqui mobilizado não quer diálogo algum com eles. Queremos derrubar os golpistas. Quando o presidente reassumir suas funções, queremos que todos os deputados e funcionários que participaram deste golpe, que são praticamente todos, sejam punidos. Por isso, a burguesia tem horror a este tipo de mobilização. Os únicos que os protegem são as Forças Armadas. Mas, se o exército é derrotado pela mobilização, poderá se desatar uma revolução democrática no país, cujas consequências serão destrutivas para o atual Estado hondurenho.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Abaixo o Golpe Militar: Ato de Solidariedade ao Povo Hondurenho dia 23/09 - quarta feira - 14 h

Manifestação dia 23/09-quarta feira-14 h

Consulado Honduras em São Paulo

Rua da Consolação, 3741

Entre as ruas Mello Alves e Bela Cintra

Companheiros e companheiras

A situação em Honduras volta a se agravar. A volta do presidente eleito Manuel Zelaya ao país no dia de ontem mais uma vez colocou a verdadeira face dos golpistas. A repressão brutal contra os manifestantes que estavam em frente a embaixada brasileira, o toque de recolher precisam de uma resposta internacional imediata. As noticias do dia de hoje dão conta que Tegucigalpa esta sitiada pelos militares tentando impedir que as marchas que saíram de várias regiões do país cheguem a capital. Ao mesmo tempo que os militares tomaram as ruas da capital tentando impedir que a população saia as ruas para se manifestar contra os golpistas. Pelas informações já há vários mortos e a repressão continua.

Por isso em contato com várias entidades decidimos realizar um ato de solidariedade ao povo Hondurenho, dia 23, quarta feira, às 14 h, em frente ao Consulado de Honduras em São Paulo.

Didi

pela Conlutas

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

RELATOS DE UM BRASILEIRO EM HONDURAS - 4

Honduras resiste – 4º e 5º dias

Honduras Resiste – 49/50 – 4/5*
50 dias de resistência contra o golpe e cinco dias de minha estadia
15 e 16 de agosto de 2009

O final de semana continuou com atividades e conversas. No sábado, um concerto na praça perto do aeroporto, onde foi assassinado o jovem estudante de 19 anos, Isis Obed Murillo Mencía, no dia 5 de julho. Compareceram cerca de mil pessoas com toda a emoção do local onde ocorreu a maior manifestação contra o golpe, o sábado seguinte ao dia 28 de junho, quando Zelaya anunciou que voltaria ao país, e a Frente Nacional Contra o Golpe de Estado convocou a população para recebê-lo.

A avaliação é de que, na ocasião, cerca de 300 mil a 400 mil pessoas vieram de todo o país em caravanas, carros, marchas e que conseguiram chegar à capital e se dirigir ao aeroporto somente um terço. O restante foi bloqueado pelos caminhos. Para a dimensão do Brasil, seria como se um milhão de pessoas se deslocassem para uma manifestação.

Os golpistas anunciaram que não permitiriam o pouso do avião. Os trabalhadores e trabalhadoras se moveram para fazer com que o presidente deposto pudesse voltar.

Em várias conversas, se passa a impressão de que a ditadura quase caiu naquele momento. Os golpistas tinham acabado de se instalar, ainda não haviam definido todos os ministros, setores das Forças Armadas balançavam.

A marcha multitudinária se impôs rompendo três barreiras militares armadas pelos golpistas. O clima era de tensão conforme a marcha avançava, e as barreiras se abriam. Militares informavam pelos rádios que não podiam disparar, porque era o povo hondurenho que marchava.

Somente a última barreira, na cabeceira do aeroporto, onde era possível entrar pelas cercas até a pista, respondeu ao comando e atirou na multidão. Ficaram vários feridos e o estudante, homenageado pelo concerto do sábado, assassinado. Durante a correria, o avião que trazia Zelaya arremete e não pousa. A divisão que se expressou nas bases e em setores da hierarquia das Forças Armadas fica de lado e os milhares se sentem frustrados porque o avião não desceu. Mais uma vez, o centro das expectativas olhando para o que pode chegar e não para o enfrentamento que gerou paralisia nas bases de setores importantes do exército. Isso nunca funcionou para as lutas dos trabalhadores.

Heroico povo, que apesar da frustração continua marchando e se mobilizando.

No domingo, houve uma assembleia geral da Frente para discutir a continuidade. Como um dos primeiros convidados a falar, ofereço como um gesto de solidariedade a bandeira da Conlutas para que esteja em todos os momentos de luta da Frente. A bandeira permanece na mesa durante toda a assembleia. Mais uma vez, as manifestações de carinho e solidariedade de classe. Os abraços, os apertos de mão de ativistas que expressam sua busca na solidariedade internacional de classe um ponto de apoio.

Trata-se de um golpe de classe, apesar das contradições do imperialismo. Os golpistas, como dizem os hondurenhos, são as dez famílias, forma como identificam os principais grupos burgueses que dominam, como sócios menores das multinacionais, os principais negócios do país: bancos, imprensa, café, maquiladoras (principalmente têxteis), banana, madeira, redes de supermercados,fast foods etc.

As decisões centrais da continuidade: ampliar a organização da Frente buscando constituir coordenações regionais da Frente Contra o Golpe. Centrar nos próximos dias, depois da semana em que o centro foi a marcha que chegou a Tegucigalpa no dia 11 e permaneceu, em retomar o debate e a organização nas bases dos movimentos. Ter como eixo de atividades, na próxima semana, a questão dos direitos humanos, aproveitando a visita da Comissão de Direitos Humanos da OEA que visitará o país. A principal bandeira é a libertação dos 11 jovens que continuam detidos e a suspensão dos vários processos em curso.

No domingo, dia 23, haverá um ato show, “Vozes Contra o Golpe”, com a presença de artistas já confirmados da Nicarágua, Venezuela, Guatemala, Costa Rica e Argentina.

Depois da assembleia, junto com advogados de organizações de direitos humanos, jornalistas e parlamentares, fomos visitar os 11 jovens que continuam presos na Penitenciária Nacional, a cerca de 40 minutos da cidade. Todos acusados de vandalismo, atentados terroristas, crime contra propriedade. Estão num presídio comum, onde a visita teve que de feita sem celulares ou máquinas fotográficas. Jovens, na sua maioria subempregados, que foram presos, como disse um deles, “porque somos pobres”. O caráter de classe do golpe aparece por todo lado.

DIRCEU TRAVESSO, DA SECRETARIA EXECUTIVA DA CONLUTAS, DIRETO DE HONDURAS
FONTE: www.pstu.org.br

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

RELATOS DE UM BRASILEIRO EM HONDURA - 3

Honduras Resiste
48 dias de Resistência Contra o Golpe e 3º dia de minha estadia
14 de Agosto de 2009
Dirceu Travesso – membro da Secretaria Executiva Nacional da Conlutas


Neste terceiro dia em Honduras, o dia começa com mais uma marcha. Toda a semana, desde o dia 11, quando chegaram à capital as marchas vindas do interior aconteceram passeatas pelas principais ruas da Capital.

Tegucigalpa, a capital, situada aos pés da Serra “El Picacho”, com seu relevo irregular de montes em torno dos rios que compõe a parte baixa da cidade. O significado da palavra Tegucigalpa, até agora é polêmica. Uns dizem ser de origem Nahua, das palavras Teguz – Galpa que significam “Montanhas de Prata”. A origem da cidade remonta aos espanhóis que se instalaram em meados do século XVI para extrair prata. Ou se origem do mesmo idioma Nahua, de Tecuztlicallipan, "Lugar de residência dos nobres". Na verdade de origem são duas cidades, Tegucigalpa, onde viviam os exploradores e abastados e Comayaguela onde viviam os setores miseráveis que trabalhavam nas min as.

As marchas às vezes caminham pelas avenidas ou “boulevares” das partes mais baixas ou sobem e descem ladeiras onde aparece o grito, “ Cansados” onde a resposta de todos é sempre um “No”.

Durante a semana as marchas foram diminuindo.Calculam-se cerca de 40.000 dia 11, cerca de 20.000 dia 12 e mais ou menos 5.000 nos dois ontem. Hoje saem cerca de 3.000 da Pedagógica e no percurso se somam mais cerca de 2.000.. Os motivos se combinam por questões políticas, organizativas e a repressão.
A dificuldade de se manter tanta gente, boa parte vindo do interior, tantos dias na capital é real.
A repressão continua ocorrendo com estratégia. Hoje não ocorreu repressão à marcha na capital mais uma vez. Mas busca amendrotar o povo e impedir ações que possam efetivamente ameaçar seus negócios e gerar divisões. Por isso manifestações como de San Pedro Sula, foram reprimidas nos dois últimos dias. Bloquearam estradas que levam ao principal porto exportador do país. Além dos ataques à população para tentar intimidar e dividir. Até agora, corrigindo o dado que informei anteriormente, de acordo com um informe oficial de grupos de direitos humanos dão conta que foram mortos desde o inicio do golpe 101 pessoas por tiros de balas militares nas madrugadas
O terceiro aspecto se expressa no debate sobre um cansaço pela combinação entre tantos dias de manifestações mas fundamentalmente pela discussão aberta entre setores do movimento: qual a estratégia ? As dúvidas tomam conta a setores do movimento. Os professores, ou combatendo o machismo, AS PROFESSORAS, assim com maiúsculas, porque o setor que esteve até agora como coluna vertebral da mobilização em todo o país tem sido “Las Maestras”. Que também expressam cansaço e surgem problemas com uma campanha pesada pela mídia buscando colocar as comunidades contra “Las maestras” que estariam se negando a ensinar as crianças do país.

Um cuidado necessário. Não concluamos que a diminuição das marchas da semana significa que o movimento esta derrotado. Nestes 48 dias o movimento foi capaz de se superar e retomar iniciativas.

Mas o debate sobre a estratégia expressa uma contradição real do movimento e a política que até agora conseguiu garantir o presidente deposto Zelalya. Mesmo que não seja dito as ações do movimento, reiteradamente chamadas para serem pacificas, para que não radicalizem pelos setores liberais de Mel tem uma estratégia clara. Manter o movimento sobre controle pressionando com as marchas internamente para apoiar as ações de negociação que busca construir desde o exterior.

Esta contradição entre a impressionante combatividade demonstrada pelas Hondurenhas (em homenagem mais uma vez as Maestras) e a ações construídas sem uma estratégia de enfrentamento junto com dois outros aspectos decidirão o futuro no próximo período. Os dois outros aspectos que poderão levar a possibilidade de que o golpe se estabilize e consiga se manter são o tema das eleições convocadas para novembro e as ações internacionais de solidariedade que o movimento for capaz de promover.

Fiquemos hoje no primeiro tema. É necessário urgente estabelecer uma estratégia que o movimento de conjunto veja como possível derrotar os golpistas. Enfrentamento não significa ações isoladas que podem jogar confusão. Mas preparar as trabalhadoras e trabalhadoras do campo e da cidade de Honduras para enfrentar o inimigo. Com grandes ações unitárias de massa. As marchas são importantes mas a serviço de construir ações que parem o pais, que afete a economia, que busque dividir as Forças Armadas e a Policia Nacional. Construir um dia de Paro Cívico, com greves e manifestações de rua nas cidades, com bloqueios de estrada por todo o país é fundamental para o próximo período. Para dividir o inimigo, mas fundamentalmente para reanimar as lut adoras e lutadores heróicos de que é possível derrotar os golpistas. E isso se dará nas lutas concretas nas ruas de Honduras, com os olhos e esforços concentrados em dividi-los, com ações construídas para enfrenta-los. Não se dará com as marchas olhando para os céus esperando a volta de Zelaya.

As eleições, convocadas para novembro desde antes do golpe e mantidas pelos golpistas até o momento, já com 6 candidatos inscritos (4 que apóiam o golpe e 2 da resistência) também podem dividir o movimento. Vamos ouvir e informar para poder discutir.

O terceiro aspecto decisivo, reafirmar um chamado a solidariedade internacional. É preciso intensificar ações de solidariedade. Manifestações, boicote econômico, exigir que os governos que se dizem democrático e popular da América Latina saiam de sua postura de declarações e possam ir a ação concreta. O primeiro passo é exigir além da ruptura diplomática a ruptura econômica. O boicote, o fechamento de fronteiras, a suspençao de todos os negócios promovidos pelo Governo dos Golpistas. Essa tarefa é de todos que tem clareza que um golpe militar na América Latina não pode passar.

Didi
Dirceu Travesso

domingo, 16 de agosto de 2009

Relatos de um brasileiro em Honduras - 2


Honduras Resiste – 47 – 2 *
47 dias de Resistência Contra o Golpe e 2 dias de minha estadia
13 de Agosto de 2009
Dirceu Travesso – membro da Secretaria Executiva Nacional da Conlutas

Durante a marcha da quinta feira, aparece em cada detalhe, conversa, palavra de ordem ou ruas, a história deste país e de como continua colocada a mesma questão de séculos, a dominação colonial.
Nas paredes as marcas dos últimos dias. A quantidade de fast foods internacionais espalhados pela cidade, com suas logo marcas imensas chama a atenção. O “Popeye” completamente incendiado, Mac Donalds, Burger Kings, Pizzas Huts e outros com seus vidros completamente quebrados. Todos pichados . “Fuera Golpistas”, “Fuera Gorilleti”, trocadilho com o nome de Micheletti, o presidente do Congresso Nacional que assumiu a presidência com o golpe militar e Gorilas, como eram chamados os militares golpistas de outros tempos. Mais a frente Gorilletti vira Pinochelletti em outra “pintada” (pichação).
As cores das cadeias de fast food, que aqui são isentas de qualquer imposto, com seus vidros quebrados e as pichações viram um mosaico embaralhando os embates que se travam.

Na Marcha, durante as conversas, o tema da dominação colonial, aparece de várias formas. De onde vem o nome da moeda local, Lempira? Esta palavra estranha, que em cotação atual precisariam de 20 Lempiras para U$ 1, é o nome do líder indígena, de uma das inúmeras tribos descendentes dos maias na região, que em 1537 consegue unir cerca de 200 diferentes chefes para expulsar os invasores espanhóis.
Depois de muita luta e resistência, ao aceitar participar de uma Conferencia de Paz e reafirmar sua posição de continuar lutando pela retirada dos invasores foi assassinado à traição. Com sua morte, os espanhóis conseguem a rendição de mais de 30.000 guerreiros que Lempira havia unificado.

Caminhando um pouco mais e outra “pintada” onde aparece o rosto de um bispo católico com seus símbolos e o número 666 (o número da Besta) inscrito em sua testa. Vem a a palavra de ordem de repúdio ao “Cardenal”: “Cardenal, cardenal, nunca serás Papa, Bestia Infernal”.
Mais uma vez a igreja mantém sua coerência institucional histórica secular. Ao lado dos exploradores. Por mais que figuras como Monsenhor Romero, bispo Salvadorenho assassinado pela ditadura nos anos 80 e outros tenham aparecido como parte da história da resistência o papel da igreja se mantém.

A figura de Morazan, General Francisco Morazan, figura nacional histórica da luta pela independência. Uma luta travada em dois sentidos : pela independência nacional e pela unidade centro americana, contra a divisão artificial em distintos países promovida pelos impérios, sempre apoiados em oligarquias regionais. A independência em relação à Espanha, conquistada em 1821. Fazendo parte até 1823 do Império Mexicano quando se soma a recém fundada Províncias Unidas da América Central. Em 1838 esta experiência de unidade sofre uma derrota e é dissolvida. Morazan é a figura mais destacada na luta pela manutenção da unidade centro americana. A Bandeira de Honduras até hoje permanece com 5 estrelas em referencia a luta pela unidade do que eram as províncias, Guatemala, El Salvador, Cost a Rica, Nicarágua e Honduras. O Panamá foi fundado posteriormente dividindo a Colômbia. Unidade reestabelecida militarmente na segunda metade do século XIX, quando “piratas” dos EUA tentam invadir as terras Meso Americanas.

Estes episódios históricos, vão revelando a constância da luta pela independência nacional e contra a divisão artificial imposta sempre pelos dominadores com aliados internos.
Assim aparece na conversa sobre a grande manifestação do dia 05 de Julho, quando cerca de 100.000 hondurenhos marcharam até o aeroporto e que outras cerca de 200.000 pessoas não conseguiram chegar bloqueados em estradas para não chegarem a capital.
Foram esperar “Mel”, como é conhecido o presidente deposto Manuel Zelaya, para recolocà-lo no governo, de onde fora deposto uma semana antes. A maior manifestação desde 1954, ano da Greve Geral Bananeira .A grande greve geral dos trabalhadores da Banana, que derrotou a Industria Bananeira Imperialista que dominava a região. Os países da America Central eram conhecidos como Republicas de Banana pelo grau de dominação colonial exercido pela United Fruit Corporation. Orgulho de uma greve geral que marcou uma mudança na correlação de forças em toda a região.

O orgulho do grupo negro com seus atabaques, tocando, cantando e dançando no meio da marcha, que são parte da OFRANEH, Organização Fraternal Negra de Honduras. E logo fazem questão de se identificar como da etnia Garífona, identidade afro indígenas de origem em São Vicente, nas Ilhas Canárias, desde 1797 vivendo em Honduras. E completam, lutamos pelo direito as nossas terras, a nossa cultura e nossos valores constantemente usurpados pelo imperialismo. E segue a marcha na mistura dos ritmos dos povos explorados.

No encerramento do ato ao falar sobre a presença da Conlutas e nosso apoio como parte da Solidariedade Internacional de Classe vem os agradecimentos, os abraços fortes e o outra parte da historiam no comentário de uma ativista: que Honduras poderia agora pagar caro pelo papel que cumpriu nos anos 80 de servir de base militar imperialista para o financiamento, treinamento e organização dos “contra”, setores paramilitares de direita, treinados diretamente pelo imperialismo para derrotar as revoluções em curso na região. A divisão regional tantas vezes imposta pelo imperialismo, se utilizando de lacaios locais, aparece como uma vergonha que não pertence aos que lutam. Digo que os que receberam e ajudaram os yanques e os contras sao os mesmos que agora estao com o golpe. E que eles, nas ruas, são os que continuam a historia heróica de nicaragüenses e salvadorenhos, vanguarda da luta daquele período.

Em Tegucigalpa foi um dia sem repressão como dos dias anteriores. A manifestação com cerca de 5.000 manifestantes, passou em frente ao Ministério Público com uma Comissão da Frente Nacional Contra o Golpe de Estado sendo recebida para exigir a libertação dos presos e a punição aos militares e policiais que estão reprimindo. A resposta, que o Ministério Público não tinha conhecimento de nenhum caso de violação de direitos humanos. Depois do Ministério Publico a manifestação terminou em frente a Rádio Globo, ameaçada de fechamento por se opor ao golpe.
Neste mesmo dia houve repressão violenta mais uma vez em San Pedro Sula onde foi realizada uma manifestação com bloqueio na estrada que vai daí, principal cidade industrial do país ao principal porto de Tegucigalpa. A justiça mais uma vez com seu caráter de classe “não sabe” das cerca de 30 pessoas mortas a balas de fuzis nas madrugadas de Tegucigalpa desde o golpe, das centenas de detidos, dos 27 já processados e que permanecem presos, das centenas dos feridos.
Como um gesto de repúdio a cegueira, terminei o dia, em uma visita ao deputado Melvin Ponces, anti-golpista, internado em um Hospital da cidade. Nas manifestações do dia 12, Ponce foi espancado pelos militares golpistas. Braço quebrado, duas cirurgias, hematomas e lesões. Nada que a justiça burguesa possa ver.

O tema da independência nacional continua colocado dramaticamente para a região. Como tantas vezes nas últimas décadas, novamente surgem momentos em que se coloca a possibilidade de discutir um projeto nacional de independência e soberania. Defender a democracia e exigir a volta do presidente eleito Mel Zelaya, contra o golpe militar, não pode se confundir em abrir mão da independência de classe dos trabalhadores e camponeses. Mel Zelaya é um burguês latifundiário que momentaneamente esta em conflito com outros setores de sua classe. Até mesmo de seu partido, o Partido Liberal, o mesmo partido de Micheletti, o golpista. Exigir sua volta não pode confundir com apoiar uma figura burguesa, latifundiário, membro do Partido Liberal.

Reconstituir Zelaya ao governo é uma medida para derrotar os golpistas. E derrotar aos golpista é garantir a prisão e punição de todos os envolvidos no golpe, é garantir a convocação da Assembléia Nacional Constituinte onde se discuta a reforma agrária, a política econômica, a relação com o imperialismo e seu TLC. Zelaya, presidente que aprovou o TLC não pode levar adiante um programa que signifique o confisco de suas terras e o ataque aos negócios de sua classe.

Durante as últimas décadas o debate sobre a relação da luta pela independência nacional e o papel de setores “progressivos burgueses” se colocou de maneira dramática na região. As alianças com esses setores, abrindo mão da construção de organizações e de um programa de classe, independente que questione suas propriedades mais cedo ou mais tarde levam à derrota. Quando o movimento em seu processo de lutas objetivas, colocam para estes senhores uma escolha de classe: expropriar ou defender a grande propriedade privada, sua origem e seus interesses de classe definem seu lado.

Caminhamos juntos na luta para derrotar os golpistas, reconduzir Zelaya e garantir as liberdades democrática com a punição dos Golpistas e a convocação da Assembléia Nacional Constituinte. Mas sem nos confundirmos que para levar adiante de maneira coerente a luta pela independência nacional e contra fascistas golpistas sócios menores do imperialismo, só a construção de um pólo classista independente e um programa que questione a grande propriedade privada, das multinacionais ou de seus agentes internos.

Didi
Dirceu Travesso

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Relatos de um brasileiro em Honduras (1)

Honduras Resiste 46 – 1*
12 de Agosto de 2009.
* 46 dias de Resistência do Povo hondurenho e 1 dia de minha visita ao país.
Dirceu Travesso - membro da Secretaria Executiva Nacional da Conlutas - Brasil

Esta viagem à Honduras é parte de um esforço de tantos militantes e organizações que buscam manter acesa a chama do internacionalismo de classe. A Conlutas, buscou se engajar junto com outros setores desde o primeiro momento, 28 de junho, quando ocorre o golpe militar que depôs Miguel Zelaya em iniciativas de solidariedade.

Durante a viagem iniciada na madrugada do dia 12 em São Paulo, com conexão no Panamá e escala na Costa Rica vêem a memória as lembranças do anos 70 e 80, as ditaduras na América Central, a resistência na Nicarágua, El Salvador, Guatemala e outros países e reaparece as imagens da experiência dura de toda uma geração do significado dos golpes militares, onde o principal alvo sempre foram os trabalhadores, as organizações sindicais e sociais.

A chegada em Tegucigalpa, capital, com cerca de 1 milhão de habitantes dos 7.500.000 de Honduras, vai revelar em poucas horas a situação e os dilemas deste país. Um golpe militar, pela primeira vez na história, reprovado, pelo menos formalmente, pelo imperialismo que tenta se impor.

No aeroporto, por volta das 13:30 h (no Brasil 16:30 h), a sensação de não estar chegando em um país com uma ditadura. Não há uma presença ostensiva de militares, muito menos tanques ou veículos militares, como a memória das ditaduras dos anos 70 evoca. Desembarco usando uma camisa com a figura de Rosa de Luxemburgo e sua frase, “Quem não se movimenta não sente o peso das correntes que o prendem” passo normalmente pela Policia Nacional, alfândega, etc. O dirigente que me espera no Aeroporto, membro da Coordenação da Frente Nacional Contra o Golpe de Estado, no telefonema feito do Panamá para confirmar se estaria me esperando me avisa “estoy usando uma camisa contra el golpe”. Me recebe, de camisa Contra o Golpe e saímos normalmente do Aeroporto para a cidade.

O destino seria o centro da cidade, onde estava por acontecer o ato de encerramento da marcha que tinha percorrido o centro da cidade, convocado pela Frente Nacional Contra o Golpe. No caminho o telefonema avisa que a manifestação havia sido reprimida violentamente. Mudamos a direção. Vamos “a la Pedagógica”, faculdade de formação de professores. Me informa que é o local tradicional de onde saem as manifestações do Sindicato dos Professores, ou melhor professoras, pois aqui também de esmagadora maioria de mulheres. Uma das categorias que tem cumprido um papel fundamental na resistência, em greve desde o primeiro dia. O telefone continua tocando, informações sobre prisões e a repressão.

Chegamos à Pedagógica, a orientação dada para a manifestação ante à repressão foi que todos se dirigissem para lá. Além de ser o local da saída das marchas, várias delegações do interior, que chegaram à Tegucigalpa, ontem dia 11, para a marcha nacional que contou com cerca de 30.000 pessoas, convocada pela Frente estão alojadas na Faculdade.

Ainda havia pouca gente, descemos e paramos na rua, com as poucas pessoas que já haviam chegado lá. Eles estão conversando sobre o que está ocorrendo. De repente saem de dentro da Faculdade, companheiros e companheiras correndo. Atrás o Exército e a Policia Nacional atirando e reprimindo. Vieram por dentro da Faculdade e chegaram por trás dos que já haviam chegado. Correria, gritos, tiros, bombas. Todos correm.

Mais tarde aparecem as informações do dia 12. Nestes 46 dias de resistência um dos dias com mais repressão. Cerca de 40 presos em Tegucigalpa e mais 80 em San Pedro Sula (segunda cidade do pais com cerca de 700.000 habitantes). Uma contra ofensiva dos golpistas, depois da marcha de cerca de 30.000 no dia anterior que terminou com enfrentamentos e algumas lojas de cadeias de fast food, de setores ligados ao golpe incendiadas e depredadas. Um episódio até agora pouco esclarecido sobre sua origem. **

A Ditadura aparece. Não tem a mesma força e truculência de outros anos. Os limites dados por uma resistência heróica do povo hondurenho que tem como principal organismo impulsionador a Frente Nacional Contra o Golpe de Estado (onde participam todos os setores contra o golpe) e a situação internacional. Uma ditadura com os militares formados na mesma Escola das Américas que formou os “gorilas” facínoras de antes, com uma unidade muito forte dos setores burgueses hondurenhos e suas instituições.

Isolada internacionalmente, pelas limitações que tem hoje a política do Governo Obama, representante das transnacionais e seus negócios, mas que sobe ao governo como expressão da derrota da política belicista intervencionista de Bush e enfrentando a pior crise econômica imperialista desde 29. Um governo imperialista que se utilizou dos militares para fazer uma pressão no Goveno Zelaya e sua aproximação com Chavez, mas que ficou em uma situação difícil quando seus aliados hondurenhos deram o golpe, atravessando o sinal.

Para Obama, a sustentação de um golpe militar neste momento, seria a negação de toda a tentativa de pintar uma nova cara para o imperialismo. Não nos confundirmos ante essa situação é decisivo. Nem acreditar que Obama e o imperialismo tenham mudado nem ignorar suas contradições que acabam de alguma maneira fragilizando os golpistas que reprimem forte, mas com limitações dadas pela falta do respaldo total e formal do imperialismo.

De outro lado o destaque a um povo, que tem lutado heroicamente para derrotar o golpe contando com várias limitações de organização. Mas também com uma limitação das mobilizações de solidariedade internacional. Até agora muito aquém do necessário para uma resposta categórica que cabe ante um golpe militar.

Mesmo que esse golpe tenha todas as limitações da conjuntura internacional. Os únicos que podem derrotá-lo de maneira coerente são o povo e os trabalhadores hondurenhos com suas organizações de trabalhadores e populares à frente mas contando com a solidariedade de classe internacional.

Esse é o desafio. Um chamado as organizações internacionais dos trabalhadores que assumam a campanha pela derrota do golpe em Honduras como um dos centros de suas atividades e iniciativas.


** O relato da magnitude da marcha do dia 11, detalhes da repressao do dia 12 também me foram transmitidos por Marcelo Buzzeto do MST, Ivan Pinheiro do PCB e Amauri Soares deputado estadual de Sta Catarina que tive o prazer de encontrar nesta noite em Tegucigalpa, quando se preparavam para viajar de volta ao Brasil depois de uma visita de 3 dias.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Pela restituição incondicional de Zelaya: Derrotar o golpe com a mobilização popular: por uma greve geral até tirar os golpistas

Honduras: derrotar o golpe com a mobilização popular! -

SECRETARIADO DA LIT – www.litci.org

Os golpistas de Honduras deram uma nova demonstração de sua sanha assassina e de seu ódio pelo povo. Durante mais de 5 dias mantiveram militarmente cercada à caravana que se dirigia à fronteira para receber o presidente Zelaya. São responsáveis pela morte de Pedro Magdiel Muñoz (encontrado com marcas evidentes de tortura) e pela prisão de milhares de pessoas em locais insalubres e sem acesso a comida ou água. O exército golpista manteve reforços obrigando os manifestantes a buscar atalhos pelas montanhas e caminhos perigosos. Na capital, Tegucigalpa, colocou uma bomba nas instalações do STIBYS (Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Bebida e Similares) onde se realizava uma reunião da Frente de Resistência contra o Golpe.

Mas, apesar da perda de vidas e do "aprisonamento ao ar livre" que os manifestantes capturados sofreram em El Paraíso e nas zonas próximas a Las Manos, estes acontecimentos mostram com mais clareza as atrocidades cometidas em Honduras pelo regime de fato. Ainda assim e em que pese o esforço "sobrehumano" para chegar até a fronteira, se vê que a Resistência está atraindo setores cada vez mais amplos da população. As organizações do movimento de massas e camadas amplas das populações da América Central e de todo mundo vão tomando conhecimento das barbaridades cometidas pelos golpistas hondurenhos e demonstrando sua indignação. Estão dadas as condições para ampliar muito mais o repúdio e multiplicar as mobilizações até derrotar o golpe.

O governo Obama, percebe a difícil situação em que se meteram os golpistas e, através de seu homem de confiança, Oscar Arias Sánchez, presidente de Costa Rica, lançou um plano cujo centro é a restituição controlada e por curto período, de Zelaya ao poder com amplas garantias para os golpistas e muitas de suas exigências garantidas, com o objetivo do imperialismo de estabilizar o regime e impedir que a mobilização de massas escape ao controle. Por isso, o imperialismo norteamericano e o europeu, e seu peão na região, Oscar Arias, evitam condenar a repressão e legitimam, de fato, os golpistas, colocando um sinal de igual entre eles e o povo hondurenho. Isto é, aceitam que Zelaya volte, mas desde que se aceite este marco reacionário.

Nada melhor para demonstrar sua estratégia que os próprios termos do Acordo proposto por Arias. Em primeiro lugar, reconhece os golpistas como parte legítima, propõe que não sejam julgados e castigados por seus crimes, que se mantenha a atual cúpula militar assassina, o Parlamento e a Corte Suprema de Justiça que orquestraram o golpe. Finalmente, propõe a formação de um "governo de unidade e reconciliação nacional" com as forças golpistas, a anulação de qualquer tentativa de consulta sobre a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte e a antecipação das eleições para encurtar o mandato de Zelaya. É nesse marco, que se aceita a volta de Zelaya, condicionado por todas estas regras que, de fato, aceitam e garantem os objetivos declarados dos golpistas. Isto é, esse acordo deixa incólumes aos golpistas e seus crimes impunes, e preserva plenamente as instituições que propiciaram o golpe. De fato, o regime político reacionário e ditatorial de Honduras seguiria intacto e cedo ou tarde voltaria a atacar o povo e cometer novos crimes.

É importante assinalar que o Acordo de San José precisa - como condição sine qua non - do bem estar de Zelaya, que é visto pelos setores populares hondurenhos como o dirigente indiscutível. Zelaya declarou repetidas vezes seu apoio a esta proposta e desta forma, abandona as reivindicações mais sentidas do povo hondurenho: a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte, o fim da velha institucionalidade repressiva e corrupta, e o julgamento e castigo aos militares e civis que orquestraram o golpe.

Esta posição é coerente com a trajetória de Zelaya, um político originário de um dos partidos burgueses tradicional das elites hondurenhas, que fez algumas pequenas reformas e, por isso, se confrontou com o setor majoritário dos empresários e com o conjunto das FF.AA. Os limites por seu caráter de classe levaram-no, desde o início, a negociar seu regresso e evitar que a luta contra o golpe se transformasse em uma autêntica insurreição popular que transbordasse e escapasse de seu controle. Sobretudo que ameaçasse varrer o regime político e a estrutura semicolonial do capitalismo hondurenho.

Por esta mesma razão, Zelaya aceitou rapidamente e se subordinou à negociação proposta pelo imperialismo e colocou suas esperanças nela para resolver a situação. Ao aceitar plenamente a proposta de Arias e o imperialismo, aposta que a ação do imperialismo (e, portanto a conciliação com os golpistas) resolva o problema.

Sua segunda tentativa para regressar ao país mostrou essa mesma contradição: Zelaya fez um chamado à população para que fosse recebê-lo na fronteira com a Nicarágua e, desta forma, garantisse a sua entrada. Foi um chamado muito irresponsável, pois Zelaya fez crer aos manifestantes que poderia convencer à cúpula militar de deixa-lo entrar pacificamente. Assim pôs em risco a vida e a liberdade de milhares de ativistas e de muitos dirigentes da Frente de Resistência contra o Golpe, com ameaça real de uma decapitação em massa do movimento antigolpista.

A improvisada marcha à fronteira demonstrou, também, o erro das principais direções da Frente de Resistência de seguir de forma acrítica às decisões pessoais de Zelaya. Não se assinalou com clareza que Zelaya aceitou levar adiante o reacionário Acordo de San José, nem tampouco que a política de chamar uma "mobilização pacífica", sem nenhuma preparação para resistir à repressão militar - gerando ilusões no caráter supostamente "patriótico e negociador" da cúpula militar - é um beco sem saída para a Resistência.

A Frente Nacional de Resistência deve retomar a luta em massa e direta para derrotar o golpe, deve retomar as Greves Cívicas e os bloqueios de estradas. A última greve geral de 48 horas na quinta-feira, 22 de julho, teve cerca de 80% de adesão e dezenas de bloqueios de estradas em todo o país; superando o processo da semana anterior. As ações convocadas pela Frente de Resistência conseguiram paralisar os portos e os aeroportos. Militantes da resistência em Honduras informam-nos que, desde a grande greve bananeira de 1954, não se via uma greve tão generalizada de todas as forças sindicais do país, acompanhada de mobilizações de rua. O chamado de Zelaya a que o povo se deslocasse à fronteira debilitou a greve nacional na sexta-feira, 24/07, e fez com que muitas das organizações chaves da Frente Nacional de Resistência ficassem sem seus dirigentes em Tegucigalpa e nas principais cidades do país.

Como assinalamos em outras declarações, a situação em Honduras é explosiva e instável, em que pese que a "aventura da fronteira" pudesse ter desencadeado um massacre e com ele uma grande desmoralização. As massas hondurenhas, carregadas de heroísmo e de capacidade de sacrifício, conseguiram novamente recuperar forças e retomar a mobilização. Este episódio deve deixar claras lições aos militantes populares hondurenhos: só a mobilização independente das organizações de massa, com os métodos da ação direta, pode derrotar efetivamente os golpistas e impor a derrota da negociação com os golpistas, acordada entre Zelaya e Arias.

Independentemente de todas nossas críticas à política de Zelaya, reafirmamos que a reivindicação democrática central das massas é seu retorno imediato e incondicional à presidência, reivindicação que vai diretamente contra o golpe. Assim há que colocar o centro, na luta por sua volta e nas medidas de luta necessárias para conseguir derrotar os golpistas. A Frente de Resistência Contra o Golpe de Estado deve intensificar os bloqueios de estradas e preparar, a partir das bases, uma greve geral que derrote o golpe de Estado.

A burguesia hondurenha começa a sentir os efeitos econômicos de um mês de rebelião popular, dos bloqueios de estradas, e do isolamento internacional. Uma série de eventos importantes mostra a pressão imperialista para forçar a aplicação do Acordo de San José:

1) a retirada do visto diplomático de figuras chaves do golpismo: Alfredo Saavedra, presidente do Congresso Nacional; Adolfo Sevilla, ministro da Defesa; Ramón Custodio, comissário dos Direitos Humanos; e Tomás Arita, magistrado da Corte Suprema de Justiça.

2) A carta de importantes empresas imperialistas radicadas em Honduras (Nike, Gap, etc.) apoiando a política do Departamento de Estado yanqui.

Estes fatos vão se somando e começam a produzir as primeiras fissuras na frente burguesa-oligárquica-militar, com atritos entre alguns dos oligarcas e pronunciamentos de personagens que se distanciam do golpismo, começando pelas próprias FF.AA. que esboçaram sua disposição de aceitar o Acordo de San José.

Semanas de funcionamento precário da economia prejudicam os interesses de todas as oligarquias centroamericanas e, inclusive, das multinacionais norteamericanas. Os golpistas começam a ver suas bases burguesas e oligárquicas insatisfeitas pela falta de solução (calcula-se em 500 milhões de dólares as perdas pelas interrupções nas atividades comerciais e pelo temor dos empresários estrangeiros em investir em uma situação instável).

Neste marco, é importante assinalar claramente a necessidade de preparar-se para responder à repressão com a organização da autodefesa popular. É necessário quebrar a estrutura das podres Forças Armadas. Ao contrário do que diz Zelaya, é preciso estar preparados para fazer frente aos ataques (abertos ou seletivos) da repressão militar, e chamar, abertamente, às camadas e as classes inferiores de oficiais a desobedecerem às ordens da cúpula de reprimir o povo. Já ocorreu insubordinação de setores da polícia que são obrigados a se manterem em prontidão por semanas, sem receber salário. Já se teve notícias de oficiais médios descontentes pelo papel que estão cumprindo. É necessário que a Frente Nacional de Resistência chame, abertamente, a que os soldados rompam com a disciplina militar.

O golpismo não pôde se consolidar até agora, devido, em primeiro lugar, à resistência sustentada e heróica do movimento de massas hondurenho, que protagonizou as maiores mobilizações de sua história, e, por outro lado, à dificuldade do golpismo para legitimar-se no marco internacional.

É necessário manter e tomar medidas solidárias de luta na América Central e no mundo inteiro. Uma vitória popular em Honduras dará uma lição à direita fascista e estimulará o movimento operário e popular em escala mundial. Há que cercar de solidariedade à heróica luta das massas hondurenhas. Há que tentar isolar e afetar economicamente os golpistas exigindo aos governos o boicote total e, fazer ações operárias contra quem comercializa com o golpismo. Há que avançar e estender a mobilização até derrotar o golpe.

· Pela restituição incondicional de Zelaya!

· Derrotemos o golpe com a mobilização popular: por uma greve geral até tirar os golpistas!

· Castigo aos golpistas. Julgamento a todo o alto comando militar!

· Dissolução da Corte Suprema e do Congresso que orquestraram o golpe!

· Por uma Assembléia Constituinte livre, democrática e soberana!

· Solidariedade internacional à heróica luta das massas hondurenhas. Boicote total aos golpistas!

Liga Internacional dos Trabalhadores - Quarta Internacional (LIT-QI)

30 de julho de 2009

sábado, 25 de julho de 2009

Modelo de moção de solidariedade ao povo hondurenho

É preciso derrotar o golpe! Veja abaixo a proposta de moção a ser levado aos sindicatos e assembleias
Abaixo o golpe em Honduras. Todo apoio à resistência dos trabalhadores!

A América Central vive novamente um golpe de estado. Nas primeiras horas do dia 28, o exército de Honduras seqüestrou e expulsou o presidente Manuel Zelaya, tomando o poder. O golpe reacionário foi apoiado pela Corte de Justiça, pela grande mídia e pelo parlamento, que indicou o golpista que ocupa o palácio presidencial. Apesar do discurso de que não foi um golpe, os trabalhadores hondurenhos vivem dias de terror, com prisões em massa e toque de recolher. Nas ruas, os trabalhadores têm enfrentado os militares e sua dura repressão, desafiando o golpe e exigindo a saída dos golpistas.

Nos, trabalhadores (_______________), condenamos veementemente o golpe de estado em Honduras, que recorda o longo período de ditaduras a que nosso continente foi submetido. Exigimos a volta do presidente, a prisão e o confisco dos bens dos golpistas e dos mandantes.

Este golpe deve ser derrotado. Exigimos que o governo Lula rompa relações comerciais e diplomáticas com Honduras, enquanto não se garanta o retorno do presidente Manuel Zelaya ao poder.

Enviamos desde o Brasil toda a solidariedade aos trabalhadores e trabalhadoras de Honduras, e apoiamos todas as ações para resistir e derrotar nas ruas o golpe de estado em seu país. Exigimos o fim da repressão e a garantia de liberdades democráticas e do direito de manifestação.

A ação orquestrada mostra toda a podridão do sistema político do país e a necessidade de uma segunda independência em nossos países, que libertem os trabalhadores e os povos latino-americanos de suas ditaduras, de generais e grandes empresas e multinacionais.

(Cidade), (XX) de julho de 2009



ENVIAR PARA
Sr. Brian Michael Fraiser Neele
Embaixador do Brasil em Honduras
Calle República del Brasil, 2301
Colonia Palmira
Tegucigalpa - Honduras
Telefones (504) 221-4432 / 236-5867
Fax (504) 236-5873
consular@brasilhonduras.org


Embaixada de Honduras no Brasil
Embaixada de Honduras em Brasília - DF
SHIS QI 19 Conj. 7, casa 34 - Lago Sul
CEP 71655-070 - Brasília DF
tel. (0xx61) 3366-4082
fax (0xx61) 3366-4618

Com cópia para
pstu@pstu.org.br

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Manuel Zelaya cruza a fronteira, mas depois recua

O presidente deposto cruzou a fronteira com a Nicarágua na tarde desta sexta-feira, 24, mas depois de alguns minutos recuou, voltando a território nicaraguense. Zelaya entrou em seu país pela cidade de Las Manos, na Nicarágua, a 250 quilômetros de Manágua. O presidente deposto chegou a levantar uma corrente que separa os dois países e avançou alguns metros em solo hondurenho acompanhado por jornalistas e manifestantes. Do outro lado estavam militares hondurenhos que formavam uma frente com escudos antimotim para impedir o avanço da marcha. Zelaya foi advertido que se avançasse em território hondurenho seria preso. O presidente então decidiu recuar.

Milhares de hondurenhos se dirigiram à fronteira do país para aguardar o retorno de Zelaya. Houve repressão e pelo menos dois manifestantes ficaram feridos. O governo ainda antecipou o toque de recolher para o meio dia, em uma tentativa de tentar impedir a marcha do movimento antigolpista atá a fronteira. Logo depois que Zelaya retornou a Nicarágua, a polícia e o exército dispararam contra os manifestantes antigolpe.

Zelaya partiu um dia antes de Manágua, capital da vizinha Nicarágua, em um comboio que reuniu pelo menos 30 veículos. Hillary Clinton, secretária de Estado do governo dos EUA, voltou a classificar de "imprudente" a ação de Zelaya. Um dos principais assessores dos golpistas é Lanny Davis, conhecido lobista dos Clinton

Paralisações e bloqueios
Os dois últimos dias em Honduras foram marcados por intensos protestos. Nessa sexta-feira, se completou o segundo dia da paralisação geral chamada pelas centrais sindicais do país. Na quinta-feira a estrada que une Tegucigalpa ao norte do país foi bloqueada na altura de Durazno. A circulação de veículos ficou totalmente impedida das 9h da manhã até as 14h.

Pela manhã do dia 24, os manifestantes contra o golpe receberam uma boa notícia. Soldados da polícia nacional deflagraram uma greve, exigindo o pagamento de seus salários atrasados. É o primeiro episódio importante de conflitos das forças repressoras com o governo golpista.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

segunda-feira, 29 de junho de 2009

O GOLPE EM HONDURAS – E AGORA OBAMA? A DEMOCRACIA COMO FICA?


Laerte Braga*

Militares se atribuem o monopólio do “patriotismo”. De um modo geral transformam as forças armadas em estamento, ou seja, uma “instituição” à parte do todo. Julgam-se com o direito de definir o destino de seus países – a maioria esmagadora – Estabelecem limites para governo, enchem-se de privilégios e subordinam-se a interesses de grupos econômicos. Esse o xis da questão.

O golpe de 1964 no Brasil não foi diferente. Um grupo de militares de extrema-direita apossou-se do poder, violou todas as normas constitucionais, chamou a aventura de “revolução”, prendeu, torturou, matou e exilou milhares de brasileiros, inclusive militares legalistas comprometidos com a Nação e não com empresas ou bancos, ou ltifundiários.

O presidente de Honduras Manuel Zelaya foi preso por volta das nove horas da manhã, hora de Brasília, por militares de seu país e levado para uma base da força aérea – eles têm essa mania, dividem a quadrilha em setores –. Os militares cumprem o que lhe foi determinado pelo capital. Empresas nacionais, internacionais – principalmente –, bancos e latifundiários.

Não concordaram com a realização de um referendo popular para decidir sobre a necessidade, o desejo ou não de reformas constitucionais no país. O presidente queria ouvir a opinião dos hondurenhos. Empresários, latifundiários, banqueiros, sob a batuta do embaixador dos Estados Unidos e um congresso e uma corte suprema padrão Gilmar Mendes/José Sarney não aceitaram.

Honduras é um pequeno país da América Central governado historicamente pelas elites e por militares (que as representam) e sob absoluto domínio econômico e político dos interesses dos EUA.

Zelaya, eleito pelo voto popular, decidira promover reformas na constituição, ouvir o povo para isso e aderiu a Aliança Bolivariana – ALBA – proposta pelo presidente da Venezuela Hugo Chávez.

E agora Obama? É show de democracia, efeitos especiais ou é para valer?

A soma de países como Honduras sustenta as grandes potências do mundo e especificamente na América Latina os Estados Unidos. O império se mantém na exploração de riquezas e povos dos países latino americanos.

Presidentes que possam vir a contrariar esses interesses são vítimas de golpe. Foi assim com João Goulart no Brasil, com Salvador Allende no Chile, como está sendo agora com Zelaya em Honduras, como tentaram fazer com Chávez e Evo Morales e como tentam fazer com Fernando Lugo e Daniel Ortega.

Não é de graça que o NEW YORK TIMES noticia que o presidente do Equador, Rafel Corrêa, está ligado às FARCs. Acusa o presidente do Equador de financiar as FARCs. Ignora a barbárie do dia a dia do presidente/traficante Álvaro Uribe, mas dócil aos EUA e seus interesses, de suas empresas.

Os militares prenderam Zelaya, cortaram o sinal dos canais de tevê do governo, censuraram os meios independentes de imprensa – a grande imprensa é deles e fomentou o golpe – e reprimem de forma brutal e violenta os protestos contra o golpe.

São patriotas. É por isso que Samuel Johnson, pensador e deputado no parlamento da Grã Bretanha, afirmou há mais de cem anos, que “o patriotismo é o último refúgio dos canalhas”.

Democracia como a concebem os donos do mundo é um exercício hipócrita de respeito à vontade popular – manipulada e manietada pela mídia – em função dos donos. Como no Brasil. Não é diferente. O governo pode “ousar” até determinada linha, depois, se contrariar a VALE por exemplo, vai para o brejo.

Há uma nova realidade em curso na América Latina. A eleição de Hugo Chávez na Venezuela trouxe governos populares em vários países da região. Essa realidade provoca imediata reação das elites e com elas os militares, uma espécie de segurança de luxo de banqueiros, empresários e latifundiários.

Se a situação foge do controle fazem como Haiti. Retiram o presidente do país, enviam tropas para “restabelecer e garantir a ordem e a democracia” e continuam a explorar os povos latino-americanos. Não difere na África e na Ásia.

A globalização é só a ressurreição do colonialismo sob nova roupagem.

A doutrina de segurança nacional que inspirou os golpes na década de 60 se constituiu exatamente em cima de uma chamada Comissão Tri-lateral AAA – AMÉRICA, ÁSIA e ÁFRICA –.

O Consenso de Washington foi o passo seguinte no processo demolidor e predador do capitalismo. É ali que fomentam e criam monstros como FHC, Serra, que tentam golpes contra presidentes eleitos, mas contrários ao modelo de colonização imposto no processo neoliberal e ali é que prendem presidentes como Zelaya que busca apenas ouvir a vontade de seu povo para executá-la.

Como é que fica a democracia agora Obama? Farsa? Não foi para isso que invadiram e ocupam o Iraque? Que ao longo dos séculos desde a independência norte-americanos têm se metido em todos os cantos do mundo para manter intocados privilégios de seus grandes grupos em parceria com elites podres, padrão FIESP/DASLU, como no Brasil?

Zelaya talvez não tenha entendido que povo no conceito dos donos são apenas eles, os donos.

É aceitar o estupro ou reagir. Em Honduras e em toda a América Latina, do contrário não há futuro só um imenso deserto de exploração e barbárie partes intrínsecas do capitalismo.


*Laerte Braga, escritor e jornalista