Num período menor do que trinta dias, Uberaba - uma
cidade média do interior de Minas Gerais, com cerca de 300 mil habitantes - vem
sendo sacudida por manifestações sociais que, por sua envergadura e conquistas,
adquiriram um caráter histórico. Refiro-me as marchas, greve e manifestações
realizadas em nossas ruas exigindo redução da passagem de ônibus, transporte
público de qualidade, contra a corrupção e direitos sociais, cujo a maior
delas, reuniu cerca de 15 mil pessoas!
Pressionada por estas manifestações, a Prefeitura
Municipal, para além das já aplicadas em face da campanha do governo federal,
comprou mais 30 mil doses de vacina contra a gripe suína; houve redução, ainda
que pífia, no importe de R$0,10 (dez centavos), nas passagens de ônibus e; foi realizada,
por iniciativa da Prefeitura Municipal, uma audiência pública na qual, não
apenas o Prefeito, mas todo o estafe relacionado ao transporte público,
inclusive, um representante de uma associação de usuários de transporte
coletivo desacreditada, tiveram que ouvir a irresignação popular, traduzida não
apenas em constantes vaias, mas em intervenções (falas dos populares)
extremamente críticas à ineficiência do transporte coletivo e ao modelo de
exploração do transporte público por meio de concessão à particulares, que só serve para enriquecer os gananciosos
empresários do setor.
É sob o símbolo destas manifestações que tem surgido
uma nova e combativa vanguarda em Uberaba, que tem contribuído pelo sucesso até
agora alcançado pelo movimento - pois, ainda que as manifestações, refletindo
uma realidade nacional, tenham refluído, com a diminuição gradual de
participantes de acordo com o que elas vinham sendo realizadas - essa vanguarda
já realizou três eventos de formação, além de ter avançado para uma nova fase de
articulações. Nessa nova fase, o movimento está indo para a periferia de
Uberaba e para as portas das fábricas, buscando formar comitês populares, cujo
a primeira tarefa é popularizar um abaixo-assinado, que já está nas ruas desde
o último dia 11 de julho, pela concessão do passe livre para estudantes, idosos
e desempregados, pela redução pra valer na passagem dos ônibus, e pela criação
de uma Empresa Municipal de Transporte Coletivo, controlada pelos trabalhadores
e usuários, pois há uma consciência crescente na cidade de que transporte
coletivo não rima com lucro e, que, portanto, não pode ficar nas mãos de
empresas privadas inescrupulosas.
Assim, ao contrário do que pensa muitos, o movimento
não acabou. Está se reorganizando para conquistar efetivamente os direitos reivindicados
pelo povo nas ruas.
Por um outro lado, vale destacar que a participação de
militantes da esquerda não governista, ou seja, da esquerda que não se vendeu e
não está nem no governo do Sr. Paulo Piau e nem da Sra. Dilma, tem despertado o
justo ódio dos setores mais reacionários da direita tradicional e da nova
direita de Uberaba. Ataques a militantes do PSTU, PCB, Consulta Popular e do
PSOL, tem sido uma constante, ainda que eles participem do movimento representando
entidades das quais são parte e, na maioria das vezes, sequer com suas bandeiras
içadas (houve ameaças de agressões físicas e morte aos militantes destas
organizações). É que os reacionários sabem que a presença da militância da
esquerda autêntica (esquerda que não membro do PT e nem do PCdoB) não permite
que o movimento seja apropriado e manipulado por aproveitadores e, ainda, que
alternativas como a do abaixo-assinado, propostas por estes militantes, permitem
que o movimento mantenha-se vivo, forte e atuante, numa crescente magnifica.
Não posso finalizar este texto, sem registrar que o
espírito de ousadia das ruas começa tomar conta das fábricas de Uberaba. No
último dia 10, operários da multinacional Black & Decker - aqui instalada
há mais de 15 anos, atraída por incentivos fiscais e por promessa de um
“sindicalismo cidadão”- passaram por cima da direção inoperante de seu sindicato
e realizaram uma heroica greve de três dias, a qual foi suspensa apenas com o
atendimento de mais de 90% das reivindicações dos grevistas, ainda que o
sindicato, e a federação pelega da qual ele faz parte, se “infiltrou” na greve,
para atuar como verdadeiro bombeiro, apagando os incêndios da luta de classe.
Pelegos, os dirigentes do sindicato dos metalúrgicos de Uberaba cumpriram, ou
se esforçaram para tanto, seu lamentável papel, ainda que tenham saído do processo
mais desacreditados do que nunca, abrindo o caminho para o surgimento de uma
nova direção que se paute pela luta dos trabalhadores. Sobre essa greve
escreverei outro texto, com maiores detalhes.
Foto: Jornal da Manhã |
Encerro, orgulhoso de não ser apenas um
comentarista do processo, mas um sujeito ativo do mesmo, enquanto militante
revolucionário e ativista do movimento social. Militante do PSTU, sou advogado
da CSP- Conlutas local e Presidente da Comissão de Movimentos Sociais da OAB
local. Não poderia me abster.
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