Contra demissões, operários britânicos ocupam fábrica na Ilha de Wight
Marisa Carvalhoda do site do PSTU
Cerca de 600 trabalhadores da fábrica Vestas, na pequena ilha de Wight, no sul da Inglaterra, ocupam a planta há mais de duas semanas. A Vestas, uma companhia dinamarquesa, é a única produtora de turbinas para energia eólica do Reino Unido. A empresa será fechada e transferida para os Estados Unidos, um mercado muito maior e que já absorvia as turbinas V82 produzidas na ilha.
Até então, a Ilha de Wight foi conhecida em todo o mundo por conta dos festivais realizados nos anos 60. Em 1969, cerca de 150 mil pessoas, grande parte dos EUA, desembarcaram na ilha para ver show do The Who. No ano seguinte, foram 600 mil, para ver Jimi Hendrix, Doors e Miles Davis, além de uma apresentação de Caetano, Gil e Gal.
A perda de 600 empregos na planta de Newport é um desastre de grandes proporções para os habitantes da pequena ilha. E por isso, a reação do grupo que ocupou a fábrica tem despertado tanto apoio e simpatia. Mike Bradley, um dos operários da Vestas, afirmou que os operários que iniciaram a ocupação "mostraram a todos desta ilha que é possível defender os postos de trabalho". Ele afirmou que a ocupação “tem sido um dos maiores privilégios de sua vida”.
O grupo promete lutar, apesar da concessão de uma ordem judicial contra eles no dia 4. Mark Smith, outro trabalhadores ainda na ocupação, disse ao jornal Financial Times na manhã de terça, dia 4: “Pretendemos ficar o máximo que pudermos. Não vou sair por conta própria”. Seu companheiro, Bradley, também é otimista, ao discursar para os demais operários: “Essa é uma luta que pode ser ganha. Se vocês desistirem, vocês vão perder. Se continuarem lutando, podemos vencer”.
Solidariedade
Eles ocuparam a empresa mesmo com a hostilidade da gerência, as ameaças legais e a indiferença do governo. A batalha de um pequeno grupo de operários se transformou em inspiração para trabalhadores do mundo todo que estão enfrentando ataques a seus empregos, salários, condições e aposentadorias.
Mark Smith disse que os operários tiveram grande apoio, de outros trabalhadores, da população local e globalmente, à medida em que as notícias se espalharam.
A comida se tornou um assunto central. Grupos de pessoas frequentemente superam grades ao redor da fábrica para levar pacotes de comida aos trabalhadores, incluindo as entidades de caridade locais. A solidariedade tem sido crucial. Os trabalhadores, suas famílias e apoiadores continuam a campanha incansavelmente dando apoio e mantendo o espírito otimista dos ocupantes.
No sábado, os trabalhadores foram ao alto da fábrica para saudar uma marcha em solidariedade à ocupação. Os manifestantes negociaram com a polícia para deixar entrar pacotes de comida, sanduíches, frutas e sucos. Os apoiadores cantavam “deixe entrar, alimente nossos garotos”. A polícia foi forçada a conceder. Mas as batalhas para conseguir entregar comida continuam sendo diárias.
Nacionalização
A ocupação também tem causado sério impacto e já custou milhões à Vestas, que, além destas demissões, prometeu outros 1.300 cortes, também na Dinamarca. Os trabalhadores deveriam receber suas indenizações na sexta-feira, 31 de julho. Mas os gerentes da Vestas foram forçados a adiar o fechamento e manter os operários, com pagamento integral, por duas semanas extras. Uma vitória jurídica também foi conquistada, depois que os advogados a serviço da empresa admitiram ter dado notícias erradas aos trabalhadores.
O fechamento da fábrica Vestas e a perda de mais de 600 empregos atingiu o governo britânico. Assim como os brasileiros da Embraer, os trabalhadores da Vestas exigem a nacionalização da empresa e a manutenção de todos os empregos.
O governo britânico defendeu fortemente uma “estratégia industrial de baixas emissões de carbono” que segundo ministros atrairia centenas de milhares de empregos verdes ao Reino Unido. Mas essa esperança sofreu um severo golpe e, seguindo o anúncio do fechamento da Vestas, o setor da indústria da energia eólica admitiu que o mercado local do Reino Unido é pequeno para sustentar uma fábrica a longo prazo. Segundo o trabalhador Mike Bradley, “o governo trabalhista deveria estar profundamente envergonhado”.
Leia a carta dos trabalhadores pedindo solidariedade:
“Como trabalhadores de uma fábrica de turbinas eólicas, estávamos confiantes que, à medida que a recessão se estabelecesse, a energia verde ou renovável seria uma área em que muitos empregos poderiam ser criados – não perdidos”. Então, ficamos horrorizados ao descobrir que nossos empregos estavam indo para fora e que mais de 525 postos da ilha de Wight e Southampton seriam adicionados ao já deplorável estado do desemprego na região. Isso causou, e continuará causando, choques de incerteza em incontáveis famílias da ilha – muitas das quais estão sendo forçadas a sair da região. Achamos isso difícil de engolir na medida em que governo diz estar investindo pesadamente nesse tipo de indústria. Apenas na semana passada eles disseram que criariam 400 mil empregos verdes. Como pode esse processo começar com 600 de nós perdendo nossos empregos? Agora não estamos mais certos disso, mas, se o governo pode gastar bilhões salvando os bancos – e até nacionalizando-os – então é claro que pode fazer o mesmo em Vestas. As pessoas de Vestas importam, e as pessoas da ilha importam, mas igualmente importante é o povo deste planeta. Nós não seremos varridos para debaixo do tapete por um governo que diz nos ajudar. Nós ocupamos nossa fábrica e chamamos o governo a intervir e nacionalizá-la. Nós e muitos outros acreditamos ser essencial que nossa fábrica continue aberta para nossas famílias e nosso sustento, mas também para o futuro do planeta. Chamamos Ed Milliband (ministro de energia) a vir à ilha e nos dizer frente a frente porque faz sentido para o governo lançar uma campanha para expandir a energia verde no mesmo momento em que a única grande produtora de turbinas eólicas fecha.”
SOLIDARIEDADE
Mensagens de apoio podem ser enviadas para
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Fonte: http://www.pstu.org.br/
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